Transformer - Fonoteca Municipal do Porto

Fonoteca Municipal do PortoFMP

Transformer

Mariana Magalhães

Resenha

12 Junho 2025

Transformer é o segundo álbum a solo de Lou Reed, lançado em novembro de 1972. Este foi o disco que projetou a sua carreira individual, tornando-o num dos artistas mais influentes da história do rock alternativo.

A sua relevância no panorama musical já se fazia notar enquanto vocalista, guitarrista e principal compositor dos Velvet Underground. Embora o grupo não tenha alcançado sucesso comercial, o seu rock experimental e vanguardista deixou uma marca profunda na paisagem musical da época. Através de uma inovação lírica, sonora e estética, transformaram-se numa banda de culto – uma referência incontornável cuja influência inspirou gerações de artistas e continua a sentir-se até hoje.

Após abandonar os Velvet Underground em 1970, Lou Reed regressou temporariamente a Long Island, onde trabalhou como datilógrafo na empresa de contabilidade do pai – sem nunca deixar de escrever poesia. Em 1971, assinou contrato com a RCA Records e, no ano seguinte, lançou o seu primeiro álbum homónimo. Este continha músicas escritas durante os tempos da banda, mas até então inéditas. Apesar de não ter causado grande impacto, houve quem o considerasse “quase perfeito”.

Nesse mesmo ano, sairia o seu segundo trabalho a solo, que mudaria o rumo da sua carreira. O álbum contou com a coprodução de David Bowie – então uma estrela em ascensão e admirador de Velvet Underground – e do guitarrista Mick Ronson, cuja influência foi fulcral na definição do som do disco.

Assim nasceu Transformer, título que parece evocar o universo de Franz Kafka e a ideia de metamorfose – artística, identitária, sonora. Neste álbum, Lou Reed afastou- se do experimentalismo cru e do universo artístico de Andy Warhol, aproximando-se da estética exuberante e teatral do glam rock – sem, contudo, romper com a sua veia provocadora e urbana.

Combinando rock e poesia como poucos, e captando a essência de Nova Iorque, Reed abordou com ousadia e lirismo temas tabus na época, como a orientação sexual, o consumo de drogas e a marginalidade. O resultado foi um disco revolucionário, romântico e libertador, de onde nasceram clássicos instantâneos, como Perfect Day, Walk On the Wild Side, Satellite of Love e I’m So Free.

Mais de cinquenta anos depois, Transformer continua a ressoar como um marco de liberdade artística, lirismo urbano e ousadia estética – a consagração definitiva de um poeta urbano no universo do glam rock. Lou Reed já não está entre nós desde 2013, mas através deste disco – ambíguo, misterioso e puramente belo – permanece presente, intemporal e imortal.

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